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MANIFESTO PELA POESIA COTIDIANA BRASILEIRA

12/19/2015

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Só a poesia nos une. Humanamente. Estatisticamente. Biologicamente.

Poetry, or not poetry that is the question.


Nós, brasileiros, temos no nosso sangue as células e glóbulos vermelhos da Lírica. Aquela Lírica célebre, única constante da história da humanidade. Aquela cola que gruda todos os períodos da trajetória da espécie na Terra. Aquele lirismo-libertação que Manuel Bandeira instaurou em sua “Poética”. Aquela lembrança gritante de que somos seres humanos antes de tudo.


Paulo Prado, em um de seus textos sobre o Brasil, disse: “numa terra radiosa vive um povo triste”. Essa tristeza nossa, a meu ver, vem da melancolia que é se dar conta da vida, da efemeridade, do desamparo. Vem da quarta feira de cinzas, quando, depois da folia e do samba do carnaval, bate a amarga consciência do finito. Vem da derrota: dos nossos times de futebol, dos nossos personagens preferidos da novela, dos nossos corações. A nossa história é uma sequência de abandonos.


O coração dos brasileiros é grande. Cabe muita coisa e muita gente. E, como a reação da ação “amor” é a tristura, somos melancólicos. Para citar uma composição brasileira, chamo pra roda Vinicius de Moraes: “E todo grande amor / Só é bem grande / Se for triste”. Casimiro de Abreu, romântico confesso, bradava: “Dizem que há gozos no viver d'amores, / Só eu não sei em que o prazer consiste! / — Eu vejo o mundo na estação das flores / Tudo sorri — mas a minh'alma é triste!”. O próprio Castro Alves, aniversariante de hoje e patrono do nosso Dia Nacional da Poesia, constatou: “O triste existe em sofrimento lento, / Vive, revive p'ra morrer depois… / Morre — assim corre a atribulada estrada / Da vida qu'rida, soluçando a sós.”


E o que tem a ver tristeza e poesia? Tudo, meus caros. Tudo. A poesia como sentimento de catarse, provocado pela delícia e miséria da arte, floresce mais bela no desalento. E a poesia como trabalho estético, no papel - o poema, puro e simples -, também se concretiza melhor quando estamos enlameados. Não indo longe: Gregorio Duvivier, meu contemporâneo, escreveu uma crônica sobre o grande romance do século XXI, explicando essa ideia que ilustra bem meu ponto de vista: “Preciso escrever o grande romance do século 21. Mas estou casado e minha vida é uma delícia. Bebemos vinho toda noite e suco verde toda manhã. Ninguém escreve o grande romance do século 21 com essa vida mansa. É preciso um pouco de instabilidade pra se escrever o grande romance do século 21.” Na linguagem oswaldiana: para criar coisas célebres literariamente, são necessários tempo, solidão - e tristeza.


Portanto, meu manifesto caminha nesse sentido: sejamos tristes. Sejamos solitários. Sejamos poéticos. Sejamos sensíveis o suficiente para perceber e entender o lirismo cotidiano que permeia nossas vidas de concreto. Que, todos os dias, possamos encontrar pelo menos algum vislumbre catártico para nos absolver dos tantos pecados nossos. Que, todos os dias, inventemos uma centelha para criar incêndios libertadores. Que todo dia tenha e seja poesia.


Comecei com Oswald, é justo terminar com Oswald, pegando emprestado (eis a herança da antropofagia!) o seu “escapulário”, que virou até música de Caetano Veloso. “No pão de açúcar / De cada dia / Dai-nos senhor / A poesia / De cada dia”.


Contra a frieza das grandes cidades, coercitiva e opressora, que quer nos robotizar - pelo cotidiano rudimentar, com nossos vícios de linguagem, afetos corporais, cafézinhos com as visitas e fofocas na janela.


Bruna Kalil Othero


Ano 87 da publicação do Manifesto Antropófago


Publicado originalmente em: http://obviousmag.org/poetiquase/2015/03/manifesto-pela-poesia-cotidiana-brasileira.html#ixzz3ulv8VA00 
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